Portugal vale “Douro”?
6 pontos a considerar antes de internacionalizar para a terrinha.
Muitos empresários brasileiros em diversos setores estão estudando abrir empresa em Portugal como o primeiro destino para internacionalização da sua empresa. Mas será que o País é o melhor destino para começar sua operação internacional?
Assim como todo País, a terrinha também tem prós e contras. Pra te ajudar a refletir um pouco, tente responder as perguntas abaixo:
- O time da sua empresa só fala Português?
- Os seus negócios estão relacionados à trading (importação/exportação), varejo, turismo ou mercado imobiliário?
- A sua empresa atende clientes portugueses ou brasileiros expatriados?
- A sua empresa é uma PME?
Se você respondeu sim para as 4 perguntas acima, Portugal é uma excelente opção. Agora, se você respondeu não, talvez seja melhor buscar outra plataforma para sua expansão internacional. Vamos explorar mais um pouco?
O que eu vi por lá
Estive em Lisboa e região em outubro de 2018 e realmente é incrível o que está acontecendo por lá. Principalmente no centro, foi impossível caminhar tranquilamente com tantos turistas. E todos os lugares que andávamos, a economia parecia realmente próspera, as pessoas comprando, os serviços públicos funcionando, um otimismo invejável (enquanto por aqui estávamos tensos com as eleições). Mas a primeira pergunta que eu me fiz, foi: cadê os portugueses? Qual é de fato a economia LOCAL de Portugal?
Foi aí que o TripAdvisor nos recomendou o melhor restaurante japonês de Lisboa para jantar, Unique Sushi Lab. Quando entramos, parecia que estávamos num restaurante em São Paulo. Pasmem, todos os funcionários eram brasileiros. Chamei a gerente para conversar. Qual era a história do lugar? Bom, um sushi man de São Paulo foi convidado para ser sushi man em Cannes na França. Ele e a esposa juntaram dinheiro e abriram o primeiro restaurante japonês deles com um investidor em Portugal. Deu tão certo que em menos de 6 meses eles pagaram o investimento e abriram uma unidade só para delivery (aliás, se você trabalha com gastronomia japonesa no Brasil, pode internacionalizar pra -quase- qualquer lugar que vale a pena, mas voltando…). Perguntei pra gerente o que era esse fenômeno em Lisboa, do turismo vibrante. Ela me explicou que por conta dos riscos com terrorismo em Londres, Paris e Berlim, Portugal virou uma ótima opção para os Europeus, pois além de barato, tem conteúdo histórico, o clima é ótimo e é possível ter diversas experiências locais. Conclusão: Portugal está POP para turismo na Europa.
Bom, mas e o resto da economia local? Se você não trabalha com turismo ou varejo, não há nada mais tão relevante em crescimento. O mercado imobiliário foi inflacionado por conta dos investidores brasileiros em busca do Golden Visa, mas em termos de economia real, não há grande diversificação setorial.
A retomada da prosperidade
Portugal foi um dos Países europeus mais afetados com a crise financeira de 2008-2009. 16.2% da população chegou a ficar sem emprego em 2013 e boa parte tentou imigrar para outros países em busca de renda para suas famílias.
O PIB cresceu 1,4% em 2016 e taxa de desemprego está em 11,1%. Ocupa a 34ª posição do Relatório Doing Business do Banco Mundial.
O governo finalmente conseguiu fazer algumas reformas no âmbito da competitividade (como reduções tributárias) e ampliou as rotas de vistos para Brasileiros (você já ouviu falar do Golden Visa, né?) e esses foram os grandes fatores de atratividade para que nós olhássemos o País com mais interesse.
Bom, os números certamente são melhores que os indicadores Brasileiros, principalmente quando comparamos os últimos 3 anos. Mas em termos de Europa, o País tem algumas limitações importantes a considerar.
Portugal para os negócios
Porta de entrada para importações e exportações para a Europa (comércio exterior) pela posição geográfica, destino para aposentados pelo clima, POP para turismo pela segurança e backoffice pelos baixos custos operacionais.
Portugal é um local com mão de obra barata e pouco qualificada, o salário mínimo é €580 (o mais baixo da Europa Ocidental) e com um PIB per capita de €17.905. Isso é bom se você pretende contratar funcionários portugueses para funções básicas, mas péssimo se você precisa que eles tenham poder de compra ou qualificação. Veja, a Universidade do Porto é a primeira universidade que aparece em 197ª posição do ranking de Universidades Europeias.
78% da economia Portuguesa é feita por PMEs: “a produtividade das empresas portuguesas com menos de 250 trabalhadores é cerca de metade da média europeia”, de acordo com relatório publicado pela União Europeia. Então se o seu negócio é B2B, pode ter dificuldade em contratar funcionários eficientes ou ter clientes com contas grandes e que paguem bem.
Então o que funciona? Se você trabalha com turismo, varejo, alimentação e serviços de consumo, o país recebeu mais de 12 milhões de turistas em 2017, é realmente relevante. Se você precisa de uma base para fazer distribuição de seus produtos para a Europa, também é excelente. Ou se você trabalha com construção e mercado imobiliário há oportunidades para desenvolvimento de novas regiões e também retrofit.
O êxodo Brasileiro
Realmente, a crise no Brasil nos fez olhar para Portugal com grande interesse. É um excelente “plano B” se o Brasil não der certo pra você e sua família, principalmente pela facilidade dos vistos. Um país com excelente qualidade de vida e segurança, mas com oferta de empregos qualificados restrita e um fator importante a considerar. Trata-se de um movimento de pessoas, mas não de negócios pelos limites da economia portuguesa ilustrados acima.
A população de Brasileiros é um pouco superior a 85.426 cidadãos. É o maior destino de expatriação do Brasil para a Europa, devido à língua e obviamente a nossa história como colônia portuguesa. Ainda assim, é um mercado alvo pequeno se sua internacionalização mirar em atender o público brasileiro. Já falei sobre os riscos do mercado da saudade em outros artigos. Dá uma olhada no “Sou Brasileiro, vende?” para saber mais.
Há um diálogo bem interessante entre o fenômeno de Portugal hoje, com o que ocorreu em Miami alguns anos atrás. Em 6 motivos para não abrir uma empresa em Miami você vai encontrar bastante similaridades sobre esses destinos.
Porta de entrada para Europa
Vamos falar um pouco de números. Portugal é um País com um pouco mais de 10 milhões de habitantes, sendo que 500 mil moram em Lisboa ou 2.8 milhões na região metropolitana (RM). Em termos de Brasil, é como se Lisboa fosse Caxias do Sul – RS ou sua região metropolitana, Belo Horizonte. Você internacionalizaria sua empresa para BH?
Daí você vai me falar: “Mas é um país que dá acesso a 500 milhões de pessoas!”, olha, veja bem, é como se você falasse para uma empresa Europeia que entrando no Brasil por Recife você tem acesso a um mercado de 200 milhões. Isso funciona?
Uma das principais teses de internacionalização é o “follow the client”, você deve estar onde seu cliente está. Se seu cliente potencial europeu está em Portugal, ou você tem um mercado potencial local grande, comece por lá. Mas se os maiores mercados europeus para seu negócio estão no Reino Unido, França ou Alemanha, crie um plano de entrada por esses destinos. Os custos de deslocamento, marketing e reputação não compensam o fato de você ter uma empresa portuguesa.
No máximo, Portugal com certeza é porta de entrada para a Espanha. Uma estratégia de internacionalização que considere a península ibérica pode maximizar as oportunidades de negócios regionais.
Portugal é Tech? O papel do Web Summit
Você provavelmente já foi convidado para participar de uma missão ao Web Summit ou já participou de várias edições. Você chega no evento e encontra mais de 70.000 participantes e pensa: “Nossa! Portugal é um gigante tecnológico e eu não sabia!” Ou é isso que o governo português quer que você pense. Pois é. O governo português pagou 110 milhões para que o evento ocorra em Lisboa nos próximos 10 anos.
Não é um movimento de mercado. Mas sim uma estratégia governamental. Depois que o evento acaba, os empresários voltam aos seus países, e o que fica, é um setor muito pequeno local. O país não está no ranking dos 25 maiores mercados de tecnologia do mundo, de acordo com o Forrester.
A percepção de alguns empresários brasileiros é de que Portugal está entre 5 e 10 anos atrás no Brasil em termos de desenvolvimento tecnológico. Esse é um excelente fator de competitividade tendo em mente o tamanho do mercado local (lembre-se de BH, ok?).
A recomendação aqui, se você realmente quer abrir sua empresa de tecnologia em Portugal é abrir um escritório comercial e deixar seu desenvolvimento no Brasil. Ainda assim, se você realmente tem ambições Europeias ou globais, olharia sem dúvida Reino Unido para sua base Europeia, depois França e Alemanha. São mercados mais robustos, com fatores de competitividade (principalmente em termos de tamanho de mercado e depois custos operacionais) que valem o esforço da internacionalização.
O ideal é você olhar países com mercados maiores que o Brasil para um processo de internacionalização e não menores. A sua motivação e os retornos valerão a pena. É o caso de empresas portuguesas entrando no mercado Brasileiro.
Conclusões…
Nesse artigo eu quis te mostrar que Portugal pode ser um bom destino de internacionalização para alguns segmentos de mercado e algumas estratégias de negócio. Existe uma Europa além de Portugal a ser estudada para sua expansão internacional. O lugar certo para seu endereço europeu vai fazer a diferença no seu posicionamento internacional.
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